segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A ARTE DRAMÁTICA COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA

No país há inúmeros professores ansiosos pelo desejo de que seus alunos possam ter acesso ao teatro. Porém, esse desejo esbarra nas dificuldades financeiras para o transporte ou nas dificuldades burocráticas de estabelecimentos que não abrem durante a semana suas portas para projetos educacionais.
Percebe-se que há um publico em potencial impossibilitado de ir até onde os profissionais do palco fazem sua arte. Alguns grupos até tentam inventar uma fórmula deteatro na escola, porém, quase todos costumam se espalhar com freqüência em produções ligeiras visando apenas o lucro.
Para um bom produto pedagógico e teatral é importante manter a qualidade estética de um bom espetáculo. E, por que não? Por que não primar pelas escolhas que se faz em produções em teatros profissionais, sobretudo a experimentação e o teatroautoral, tão pouco valorizado no Brasil?
É importante que as trupes criem um bom um repertório de teatro infanto-juvenil, com temáticas variadas e pertinentes, que possam servir como um “cardápio” cultural para escolas públicas e privadas, unindo a arte e a educação.
A partir de textos originais e atuais, deve-se buscar por projetos que possam disponibilizar às instituições de ensino a oportunidade de escolher temas pertinentes que toquem melhor o coração dos alunos. Dessa forma, é possível envolvê-los em trabalhos pedagógicos e torná-los dinâmicos para a discussão com os jovens.
É de suma importância que a criança vá ao teatro e se habitue ao ritual e às convenções teatrais. No entanto, o ato do teatro ir à escola também oferece a oportunidade aos pequeninos de se aproximarem da linguagem da arte cênica, além de despertar o desejo de conhecer um verdadeiro palco.
O teatro apresentado na escola não deve ter a pretensão de somente ensinar, perdendo suas características estéticas e passando a ser meramente didático. Ele deve instigar e plantar a semente da curiosidade, para que os temas abordados na peça possam ser trabalhados em sala de aula com o professor. A sua função é abordar assuntos interessantes e atuais, de forma dinâmica, surpreendente e criativa, além de instigar os alunos a buscar mais conhecimento.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, que se referem ao ensino da Arte (PCNs-Arte), citam três dimensões artísticas pelas quais devem passar os estudantes: o fazer, o fruir e o refletir. Ao levar o teatro até a escola, garante-se o fruir, possibilitando o refletir e instigando o produzir.
O conhecimento da arte abre perspectivas para que os jovens tenham uma compreensão do mundo e do universo poético. Por meio da cultura o aluno aprende que é possível transformar continuamente a existência, que é preciso mudar referências a cada momento. Para os PCNs-Arte, o criar e o conhecer são indissociáveis e a flexibilidade é condição fundamental para aprender. Ela é um atributo característico da atividade imaginativa, pois permite investigar possibilidades e não apenas reproduzir relações conhecidas.
Por meio de projetos teatrais nas escolas é possível que crianças e jovens possam refletir seu mundo, investigá-lo, imaginá-lo, transformá-lo e pesquisá-lo.
Assim pretende-se garantir a educação para criar cidadãos inteligentes, e inserir a comunidade, com o seu contexto histórico e cultural, numa interação com a instituição de ensino, possibilitando ao aluno uma participação como sujeito na construção dos conceitos e associações produzidos.
Um projeto que englobe tudo isso é algo bem ousado. Porém, há um imbróglio nisso tudo: criar um repertório constante e concomitante para teatro na escola necessita de verba e infra-estrutura. Esperar uma lei de incentivo, um edital ou um patrocínio pode resultar na ausência de muitas crianças e jovens no cenário cultural de nosso país.
Por sorte, há alguns grupos que trabalham de forma independente, o que implica em abrir, muitas vezes, um cardápio com um único espetáculo, na luta e na busca esperançosa de que em breve encontrará apoio o suficiente para viabilizar um leque de opções completo para as escolas.
Marina Monteiro.
Autora e coordenadora do projeto.